Pensando alto sobre o UFC e afins...
Tivesse
a frase “Vou acabar com a cara dele e com cada um dos dentes da boca”
saído dos lábios de uma pessoa “qualquer”, logo seria taxada de
violenta, mas na boca de Anderson Silva ela ganhou o status de “promoção
do esporte”.
O lutador brasileiro, sempre “polido” em suas declarações, surpreendeu a todos nos dias que antecederam a sua última luta ao fazer declarações bastante duras, chegando a afirmar
que seu adversário “vai precisar de um cirurgião plástico”.
Antes
que você conclua: “Lá vem mais um texto de alguém que não gosta de
esportes”, preciso informar que isso não é verdade. Sempre gostei de
esportes (apesar do “biotipo” atual... rs) e sempre gostei de artes
marciais. Pratiquei por um bom tempo a capoeira (alguns não sabem que é a
única arte marcial genuinamente brasileira) e por pouco tempo o taekwondo.
Antes de minha conversão e até há bem pouco tempo eu era um admirador
de UFC, MMA, Vale-tudo e afins, mas ultimamente, na tentativa de levar
todo o meu pensamento cativo ao pensamento de Cristo, muitas coisas têm
me incomodado, incluindo a empolgação de cristãos com tudo isso.
Começando
pelas declarações cheias de ira, citadas no início, já temos um sério
problema. No Sermão do Monte o Senhor Jesus ensinou a interpretar de
forma correta a lei. Os fariseus, preocupados somente com a guarda
externa dos mandamentos, entendiam, quanto ao homicídio, que o problema
residia no fato de eles tirarem a vida de alguém. Fosse outro a
matar, não haveria problema. Lembre-se de que, ao entregar Jesus ao
julgamento de Pilatos, os fariseus ouviram do governante: “Tomai-o vós outros e julgai-o segundo a vossa lei” – ao que responderam hipocritamente – “A nós não nos é lícito matar ninguém” (Jo 18.31).
O Senhor corrige essa interpretação hipócrita da Lei afirmando: “Eu,
porém, vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu
irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu
irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo,
estará sujeito ao inferno de fogo” (Mt 5.22).
Já
ouço alguém dizer: “Pastor, mas você é muito inocente mesmo... não vê
que essas declarações são somente para promover a luta?” E eu já
respondo: Isso não torna menos problemática a declaração, visto que a
mentira, conforme o Senhor Jesus, procede do diabo (Jo 8.44).
Não
consigo crer que o prazer pecaminoso de ver alguém ser surrado até
sangrar, desmaiar e/ou até mesmo morrer se adeque à orientação paulina
de que “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que
é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa
fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso que ocupe
o vosso pensamento” (Fp 4.8).
Para os
cristãos presbiterianos, que é o meu caso, há ainda outra questão a
ponderar. Somos uma igreja confessional, isto é, temos a Escritura como
regra de fé e prática e adotamos como sistema expositivo de doutrina e
prática a Confissão de Fé, o Catecismo Maior e o Breve Catecismo de Westminster[1]. Isso quer dizer que acatamos essa interpretação das Escrituras como fiel.
Na resposta à pergunta 136 do Catecismo Maior – “Quais são os pecados proibidos no sexto mandamento?” – temos:
“Os pecados proibidos no sexto mandamento são: o tirar a nossa vida ou a de outrem, exceto no caso de justiça pública, guerra legítima, ou defesa necessária; a negligência ou retirada dos meios lícitos ou necessários para a preservação da vida; a ira pecaminosa, o ódio, a inveja, o desejo de vingança; todas as paixões excessivas e cuidados demasiados; o uso imoderado de comida, bebida, trabalho e recreios; as palavras provocadoras; a opressão, a contenda, os espancamentos, os ferimentos e tudo o que tende à destruição da vida de alguém” (grifos meus).
Creio que não é preciso explicar que toda a violência desses “esportes” vai contra o que professamos como fé.
Em
dias que até pastores têm tentado justificar o UFC e afins citando a
“briga” entre Davi e Golias, é necessário dar ouvidos ao salmista que
diz: “O Senhor põe à prova ao justo e ao ímpio; mas, ao que ama a violência, a sua alma o abomina” (Sl 11.5).
Milton Jr.